Na vida de uma mulher, a menarca (primeira menstruação) marca o início da sua vida fértil e, portanto, a maturação do sistema reprodutivo e a possibilidade de gerar uma vida humana. Esse evento importante diz a mulher que ela está transitando para a vida adulta, deixando a infância e adentrando uma dança hormonal que só cessará na menopausa, perto da última etapa de sua vida.

A partir desse rito de passagem que é a menarca, todos os meses, o corpo e a mente femininos têm, na menstruação, a oportunidade de purificar-se, realizando uma limpeza periódica que serve tanto como uma forma de preparo do corpo para a geração de filhos saudáveis, quanto como um eficiente mecanismo de liberação de toxinas, renovação das energias, criatividade e oportunidade de revisão dos fluxos, movimentos que conduzem de volta às raízes mais profundas do universo da mulher.
Do mesmo modo que os três doshas (vata, pitta e kapha) trabalham juntos na manutenção e sustentação da dinâmica no equilíbrio do ciclo feminino, também podem perturbá-lo quando estão em desequilíbrio, e temos na auto-observação, uma grande aliada para perceber quando as mudanças estão conduzindo a estados patológicos.
Os fatores causais contribuem para desequilibrar os doshas, da mesma forma que a correção destes, auxiliam o retorno ao bem-estar. Nesse contexto, simples escolhas e cuidados podem fazer grandes diferenças na saúde do ciclo menstrual ao longo da vida reprodutiva da mulher, como:
Manutenção de uma rotina de exercícios físicos;
Redução no uso de açúcar (principalmente branco), sal e carne;
Evitação do consumo de estimulantes - álcool, cafeína, nicotina;
Prática de uma alimentação com vegetais frescos e pouco processados;
Atenção diária ao agni (fogo digestivo), garantindo boa capacidade digestiva;
Escolha de alimentos de produção orgânica (livre de aditivos químicos);
Descanso priorizado após situações extenuantes (de trabalho, sexo, exercícios, mudanças);
Evitação de ambientes nocivos, que hiper estimulam os cinco sentidos.
Também importa o que não se deve idealmente fazer durante o período menstrual: dormir durante o dia, ter relações sexuais com penetração, fortes emoções, excesso de atividade mental, adornos, exercícios físicos, líquidos gelados, exposição ao vento, festas ou aglomerações, aplicação de óleo no corpo, alimentos condimentados (picantes, salgados, quentes), alimentos de difícil digestão (pesados, ou em grandes porções).

Um outro grande marco na vida de uma mulher, caso escolha ou simplesmente aconteça, é a gestação, e todo o processo que a envolve, incluindo o evento do Parto e o Puerpério. Independente do dosha constitutivo daquela mulher, a gestação é o período mais kapha de sua vida, onde seu corpo todo muda para criar um ser humano a partir de sua ?terra de dentro?, o útero. Para isso, os líquidos praticamente dobram no seu corpo, alterando toda sua fisiologia, digestão e sono.
Ayurveda prioriza o cuidado com as gestantes, e considera esse um precioso e importante momento da vida, que determina literalmente quem serão os seres humanos que irão compor o grande tecido humano na Terra. Por isso, traz quase mil páginas dos seus textos clássicos dedicados a nos instruir sobre como melhor nos preparar para conceber, gestar, parir e amamentar.
Por certo, esse é um importante marco na vida de uma mulher, digno de atenção, preparo e cuidados, para que a experiência toda seja prazerosa e saudável. É dito que o Puerpério, depende muito de como foi a experiência de Parto. O parto, depende muito de como foi a gestação. A Gestação, por sua vez, depende muito de como foi a concepção. E tudo que acontece no puerpério de uma mulher, pode marcar sua vida toda. Caso doenças surjam nesse período, podem levar um longo tempo para curar. Do mesmo modo que um bom cuidado com a mulher nessa fase, pode a tornar mais forte e feliz no exercício da maternidade.
As pessoas se preparam tanto para eventos menos importantes do que produzir um ser humano, como um trabalho, uma maratona, uma viagem. Mas pouco se preocupam em preparar o terreno (físico, mental, emocional) para a grande viagem que é essa de "fazer gente". Por certo, ayurveda vem nos ensinar que para mudarmos o mundo, precisamos com urgência, mudar a forma como concebemos, pois é ali que os elementos se combinam para formar o indivíduo do futuro.

Por fim, como um marco na vida fértil de uma mulher, temos a menopausa, que se manifesta através de uma transição, o climatério. Podendo este ser bastante suave e tranquilo, quando sua vida fértil foi saudável. Ou muito desafiador, caso tenha vivido sua fertilidade sem plenitude, seja por maus hábitos, traumas mal resolvidos ou uso de medicamentos bloqueadores dessa energia criativa tão poderosa (como hormônios artificiais ou dispositivos intrauterinos).
A menopausa em si é considerada a última menstruação da mulher, quando então os ovários param de produzir os hormônios sexuais e assim, cessam a ovulação e, por consequência, a menstruação. Nesse período, toda energia vital de reserva que por toda sua vida esteve no útero, ascende para o seu coração. Ou seja, Ojas, a força vital que sustenta a vida, promove amor e união, passa a vibrar de outra forma.
Então, o poder criativo uterino pode ser experimentado no coração, por outros caminhos que não este de gerar vida humana, mas de cuidar, orientar, apoiar as mulheres que vieram depois, ensinar o que aprendeu com a maturidade...
Aqui a mulher tem duas escolhas, como disse certa vez Rita Lee muito sabiamente: ou escolhe deixar nascer em si a "feiticeira", e aceita a velhice desfrutando de seu poder de liberdade e sabedoria, ou abre espaço para a "perua", que se perde de si na busca incessante pela juventude eterna, imposta socialmente, e passa essa fase da vida brigando contra a própria natureza. Nessa batalha, sabemos quem ganha.
Fato é que: com Ayurveda na vida dela, para bem dizer a verdade, uma mulher pode conciliar muito bem ambos os caminhos e envelhecer com saúde, bebendo dos conhecimentos védicos que promovem rejuvenescimento, não como busca por uma suposta e aparente juventude a qualquer custo, mas sim, evitando de forma sábia o envelhecimento patológico (precoce), cultivando bem-estar e promovendo vitalidade, para envelhecer apreciando a doçura da vida, sem que o amargo da maturidade seque seu coração e seus olhos para o mundo.
Sabrina Latansio, Bióloga com quase duas décadas de pesquisa científica em Botânica, Ecologia e Biodiversidade (UNESP, USP, UNICAMP, UQ/Austrália), fez transição de carreira para a Saúde Integrativa. Especializou-se em Hatha Yoga, Yogaterapia, Ayurveda (incluindo Clínica) e Doulagem. Foi docente na graduação em Naturologia (UAM) e atualmente leciona em pós-graduações (Santa Casa de SP, Escola de Saberes Ancestrais), além de clínica. Suas áreas de ensino e pesquisa abrangem Medicina Botânica, Saúde da Mulher e Reprodutiva, Terapias de Rejuvenescimento e Fertilidade (Rasayana, Vajikarana), Cosmologia e Fundamentos da Ayurveda (Samkhya), Ginecologia Natural e Contracepção natural não hormonal com plantas."
Como fundadora da Ecosofia Feminina, ela trilha um caminho transdisciplinar que une saber ancestral, herbalismo intuitivo e consciência botânica, a serviço da soberania uterina e da reconexão profunda com o feminino. Sua atuação, que já passou por docência na Anhembi Morumbi e hoje se estende à pós-graduação (Escola de Saberes Ancestrais e Santa Casa de São Paulo), enfatiza saúde da mulher, rejuvenescimento, terapias afrodisíacas, fitoterapia e plantas contraceptivas ? área em que é pioneira no Brasil. Com olhares ecofeministas e ecológicos, integra as três ecologias ? meio ambiente, relações sociais e subjetividade humana ? como eixo para restaurar a saúde do corpo, da mente e da comunidade. Por meio de cursos (Ayurveda e Ginecologia Natural) mentoria (Fitocontracepção®), atendimentos clínicos e participação em eventos, ela cultiva uma narrativa de restauração da saúde, que parte do interior de cada mulher (subjetividade humana | casa-corpo), irradia para as relações sociais (casa-comunidade) e a partir daí, transborda para o mundo (meio ambiente | casa-planeta), considerando o cuidado, como base da saúde nesses três âmbitos da existência.
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